07 fevereiro, 2013

O Estado "deve" apenas buscar a felicidade da sociedade.


Resumidamente, observa-se que Aristóteles, em sua obra A Política, afirmou que “o homem é um animal político” [1] ou, como diz outra tradução, “um animal cívico”, [2] isto é, um ser “que se aperfeiçoa apenas em sociedade, quando vive lado a lado com seus semelhantes e formando com eles associações” (1253a). O sentido de “político” naquele então era mais literal que o entendimento atual. Hoje, o “político” não é só aquele que se interessa por negócios públicos porque da cidade, que se aproxima mais do termo “cidadão”, mas o termo também se relaciona aos estadistas, os poucos indivíduos que se envolvem na política e aos indivíduos corteses, espertos e astutos não pouco associados a escândalos e roubalheiras. Para o grego clássico, o homem se aperfeiçoava na cidade, na polis, daí político. O seu caráter se “aperfeiçoava” porque buscava não só seus próprios interesses, mas o da coletividade, envolvendo-se, para suprir necessidades e solucionar conflitos de todos os grupos sociais. O ideal “político” era a “felicidade” de todos.

Segundo Aristóteles, qualquer associação humana tem o sentido de atingir um “bem” para aqueles que a constituem. Mas existe uma sociedade humana, [...] um tipo de associação de indivíduos e instituições que abarca todas as demais e tem por objetivo o bem comum. Essa associação é a sociedade política, o Estado. (1252a) (ARISTÓTELES, 2006, p. 2)

O “bem comum” é subsidiário à “sociedade” porque a ajuda e a melhora. A finalidade do estado e sua consequente razão de existir é realizar as funções que não podem ser levadas a cabo pelas associações menores como as famílias e as aldeias. O Estado tem como fim perseguir o bem comum, [3] coordenando as outras várias associações existentes. Logo, para o estagirita, apenas o Estado é capaz de realizar tais funções. E a “responsabilidade” do Estado passa a ser, neste ponto, subsidiária ao “bem comum” porque se agrega à “sociedade” para melhorá-la, ganhando evidência e relevância.

Sob aquele conceito de natureza, Aristóteles concebe uma ordem natural tautológica onde o Estado é anterior ao indivíduo, pois o todo precede a parte. Para ele é a natureza que concebeu o Estado e os indivíduos, e estes, em uma evolução racional, apenas o descobriram, chegando até ele. Consequentemente, se o todo for destruído, a parte não será mais apta a cumprir sua função. Dessa forma, ao velar pelo bem comum, ele (o Estado) cria as condições para os seres humanos realizarem a sua natureza que é a de associarem-se para buscar algum bem.

A partir dessa idéia se percebe que é da natureza a busca do homem por seus semelhantes sendo, por isso, um ser social, e de que o Estado é uma associação que, além de perseguir o “bem comum”, gera condições para que as pessoas busquem associações com os seus semelhantes.  Esses dois elementos precursores, então, passaram a constituir o princípio da subsidiariedade. Tal gene foi se desenvolvendo no interior da própria instituição do Estado até a conceituação e estabelecimento dos Estados modernos.



[1] Na tradução de Mário da Gama Kury. In: ARISTÓTELES, A Política. Brasília: UnB, 1985, p. 8.
[2] Seguindo a tradução adotada pelo autor. ARISTÓTELES, A Política. Trad. Roberto Leal Pereira. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 5.
[3] Na Política, Aristóteles entende o “bem comum” não apenas como o “interesse geral” da comunidade, mas o associa à felicidade, à honestidade, à honra e à virtude, entre outras coisas. São suas as palavras que constroem tal conceito: “O fim da sociedade civil é, portanto, viver bem; todas as suas instituições não são senão meios para isso, e a própria polis é apenas uma grande comunidade de famílias e de aldeias em que a vida encontra todos esses meios de perfeição e de suficiência. É isso o que chamamos uma vida feliz e honesta. A sociedade civil é, pois, menos uma sociedade de vida comum do que uma sociedade de honra e de virtude” (1281 a) (ARISTÒTELES, 2006, p. 56).